CONSTRUÇÃO DO JOGAR
Entendimento e reflexões em busca de nortear a elaboração de um Modelo de Jogo
Leonardo Gondim*
Retirado do site: http://www.universidadedofutebol.com.br/2012/01/1,15179,PILARES+PRATICOS+UTILIZADOS+COMO+REFERENCIA+NA+CONSTRUCAO+DO+JOGAR.aspx?p=1
Intrínsecos ao processo de modelação, hierarquização e construção do “jogar” que o futebol moderno exige, encontram-se o entendimento e detalhamento das fases e momentos inclusos dentro de uma partida.
Considerando a complexidade do jogo, oriunda da somatória de ações instantâneas e de ocorrência aleatória, busca-se a identificação das ações maiores que norteiam o jogo.
No intuito de gerar um melhor entendimento para os leitores, denominar-se-ão essas ações maiores que atuam em um jogo de futebol como “pilares práticos da construção do jogar”. Neste sentido cabem reflexões sobre o entendimento dos conceitos de fase e momento, pois se pode dizer que o jogar consiste em fases precedidas por momentos de alteração de postura.
Tem-se, como conceito de momento, uma ação instantânea, ou seja, algo imediato. No entanto, por fase pensa-se em um processo que passa por inicio, condução e conclusão. Sendo assim, vamos entender essa sequencia de ações.
Serão abordados, então, os ditos “pilares de entendimento” referentes ao “jogar”, quais sejam:
- Organização defensiva -> Transição ofensiva -> Organização ofensiva -> Transição defensiva – (Exemplo de organização de postura referenciado pelos pilares práticos da construção do jogar)
Faz-se necessário ressaltar que, de acordo com um entendimento global do jogo, os quatro pilares apresentados estão intimamente interligados, manifestando-se de modo contínuo e com sequência randomizada.
Como uma abordagem inicial, buscaremos refletir sobre o conceito e alguns desdobramentos relacionados à organização defensiva.
Inserida a um sistema de relações que constitui o modelo de jogo, a organização defensiva engloba ações coletivas que, margeadas por princípios defensivos, conduzem a postura de uma equipe quando em ação “marcadora” (sem a posse da bola ou, com a mesma, de modo que exista um balanço defensivo – jogadores que, mesmo sem o poder da posse da bola, organizam e preocupam-se com a futura obrigação em defender- Conceito abordado em seguida).
Ou seja, pode-se conceituar organização defensiva como o ato coletivo atuante em prol da neutralização dos objetivos ofensivos do oponente, de modo a utilizar princípios defensivos elaborados e inseridos no modelo de jogo.
Sendo assim, alguns exemplos de organização desta manifestação tática do jogo, ou seja, algumas maneiras ou padrões para marcar as ações ofensivas do adversário, serão analisados.
O autor português Castelo, defende que a organização do processo defensivo baseia-se em três aspectos importantes:
- Equilíbrio/balanço defensivo: ocorre em situações em que, ainda em poder da posse da bola, a equipe visa se organizar e se preparar para uma futura obrigação em defender;
- Recuperação defensiva: tem início à medida que a equipe tenha sido impossibilitada de recuperar a bola imediatamente ao momento de perda, e sua duração se dá até ao momento de obtenção do padrão defensivo estipulado pelo modelo de jogo;
- Defesa propriamente dita: Aplicação prática do padrão defensivo da equipe e dos princípios defensivos pré estabelecidos, sejam coletivos ou individuais;
Tendo em vista as ferramentas que irão estruturar o tipo de organização do processo defensivo escolhido pelo treinador, serão abordados, por fim e de modo genérico, alguns exemplos dos referidos tipos:
- Defesa individual x defesa “homem a homem”: Marcar individualmente significa demonstrar preocupação com indivíduos que sejam decisivos às ações do jogo. Esse método evidencia situações de “um contra um” e igualdade numérica, porém, um defensor não executa a marcação em um mesmo jogador de ataque por toda a passagem defensiva, logo, trocas de marcação são constantemente executadas.
Como defesa “homem a homem”, por outro lado, entende-se a preocupação individual, seguindo os mesmos preceitos da marcação individual, em relação a jogadores decisivos, porém, a diferença consiste no fato de um defensor seguir executando a marcação em um mesmo jogador de ataque, até o final de uma passagem defensiva.
COMENTÁRIO DO VÍDEO GERADO PÓS-EDIÇÃO:
- Nos trechos demonstrados, nota-se uma grande preocupação em marcar a saída de bola do Barcelona e os chamados “abertos e profundos” (pontas) da equipe Catalã. Os zagueiros extremos da equipe do Bilbao executam perseguições aos pontas quando os mesmos se deslocam para o centro do campo, não se importando com o espaço que, possivelmente, se forme através desse deslocamento. Uma clara demonstração de organização defensiva “homem a homem”.
De modo geral, nota-se, nos dois métodos, o predomínio de referências defensivas individuais, ou seja, entende-se que o adversário é sempre perigoso, independente de sua localização.
- Defesa à Zona: Método que possui os espaços ocupados como maior referência dentro de ações de marcação, logo, o intuito maior é ocupar, de modo coletivo, os espaços mais perigosos do campo. Por espaço perigoso entende-se aquele próximo a bola e os ocupados pelas primeiras opções de apoio ao jogador detentor da posse, ou seja, é um método que exige uma ocupação de espaço racional e equilibrada, de modo a induzir o adversário a atuar em zonas mais densas do sistema defensivo da equipe que marca.
- Defesa à Zona Passiva: Forma de defender que apresenta como objetivo o encurtamento de espaços, criando dificuldades de ação ao ataque adversário, até que haja o erro.Consiste num método de defesa que não apresenta uma luta incessante em busca da bola, e sim uma postura paciente e indutiva, de modo a esperar o erro do adversário.
COMENTÁRIO DO VÍDEO GERADO PÓS-EDIÇÃO:
- Apesar de, em alguns poucos momentos, a seleção da Escócia apresentar um comportamento mais intenso no intuito de retomar a posse de bola, em grande parte do jogo a mesma demonstrou que pretendia manter uma organização defensiva baseada na ocupação horizontal de seu campo defensivo, demonstrando uma postura paciente, taticamente dedicada e voltada a diminuir os espaços ofensivos da seleção espanhola. Aguardar o momento de erro, mesmo que, neste trecho do vídeo, o mesmo não tenha ocorrido.
- Defesa a Zona “Pressionante”: Apresenta intuitos similares aos da defesa a zona, porém, possui uma vertente mais “agressiva” em momentos de pós-ocupação racional e equilibrada do espaço. Ou seja, define-se uma ocupação espacial densa e “ataca-se” o adversário de forma intensa quando o mesmo atuar neste espaço.
COMENTÁRIO DO VÍDEO GERADO PÓS-EDIÇÃO
- No vídeo acima, apesar da ênfase ser dada à posse de bola executada pela equipe do Real Madrid, pode-se observar uma organização defensiva zonal passiva, onde os atletas do Ajax tentam induzir a equipe merengue ao erro. Há uma abordagem mais enfática somente nos momentos que os atacantes adversários ocupam a última linha defensiva do Ajax (próximo a entrada da grande área). Um exemplo de organização defensiva zonal, passiva!
Posteriormente a este primeiro contato com os pilares de construção, serão aprofundadas discussões sobre os tipos de organização mencionados para então, em breve, dar inicio a reflexões sobre transição ofensiva, organização ofensiva e, por fim, transição defensiva.
Por além dos conteúdos abordados, ficam evidentes as inúmeras possibilidades de se organizar e conceituar ações táticas dentro das diferentes fases do jogo.
Ou seja, mãos a obra! Temos muito a pensar e construir dentro de um modelo de jogo!
Muito obrigado e até a próxima!
“O pensamento é livre, a discussão, obrigatória!”
*Bacharel em Esporte – Escola de Educação Física e Esporte/USP
Contato: gondim.leonardo@gmail.com
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