A segunda reportagem da série sobre mulheres no futebol vai mostrar as jornalistas que estão nas redações, nos campos, nos vestiários.
A comemoração é só na quinta, mas no bom dia, a homenagem ao Dia Internacional da Mulher começou antes. A segunda reportagem da série sobre mulheres no futebol vai mostrar as jornalistas que cobrem futebol, estão nas redações, nos campos, nos vestiários. As barreiras para elas nessas profissões hoje em dia são muito menores.
A Regiani é paulista, tem a Marluci que é carioca e a Clara, baiana. “Mulher precisa dar uma chance para o futebol e na hora que ela dá uma chance, não tem para onde correr. É muito difícil não se apaixonar pelo futebol”, disse a jornalista Clara Albuquerque.
Esta é uma história sobre mulheres craques em futebol. Se o assunto é futebol, a baiana Clara Albuquerque fala com propriedade. Leitora contumaz Clara devorou o livro sobre o assunto e gostou tanto que decidiu escrever o dela. “A linha da bola”, que tem assumidamente uma versão cor de rosa do mundo do futebol. O livro é uma declaração explicita de uma paixão de criança. No ano de 1986, o Brasil vivia o clima da Copa do México. Clara tinha apenas 4 anos e não gostou nada do presente que ganhou da avó.
“Ela trouxe para meu irmão uma camisa da seleção brasileira e para mim trouxe uma boneca. Eu fiquei revoltada. Chorei horas porque eu não conseguia entender porque não conseguia entender que meu irmão tinha ganhado uma camisa da seleção que estava na televisão jogando e eu tinha ganhado uma boneca. Eu queria participar daquilo também”.
Ela ganhou uma camisa improvisada da seleção e com o tempo a diversao virou profissão. Hoje, ela tem uma coluna no jornal, um blog na internet e um quadro sobre esportes na TV Bahia. “Me preparei para trabalhar com futebol porque é a minha paixão. É uma coisa que eu vivo. Se eu estou de folga eu vou assistir futebol. Se eu estou trabalhando, vou assistir futebol. Então, é uma coisa que eu vivo muito”, explicou.
Está cada vez mais fácil encontrar Brasil afora exemplos de mulheres que adoram contrariar uma máxima masculina. Aquela que diz que futebol é coisa para homem.
Longe das belas praias do Rio de Janeiro, o Bom Dia Brasil encontrou Marluci Martins. A paixão pelo futebol a levou para o jornalismo. Ela foi setorista do clube de maior torcida do país e acompanhou de muito perto a carreira de um dos grandes craques do Brasil. “O Romário chegou em 95 ao Flamengo com toda a mídia em cima. Em 94 ele foi o melhor jogador da Copa, foi campeão. As coisas não funcionavam muito bem no Flamengo, eu cobria o Flamengo, ele parou de falar comigo e eu nunca entendi bem o motivo. Passamos o ano inteiro brigando e eu só voltei a falar com o Romário em 2000”, contou jornalista Marluci Martins.
Oito anos depois, foi Marluci que contou para o mundo que Romário ia parar de jogar. “Eu peguei o telefone, estava em casa, e liguei para ele. ‘Romário, seu contrato acaba agora. Como vai ser a sua vida?’. Ele disse assim: ‘Pois é, agora que eu parei, tenho que arrumar alguma coisa’. E eu: ‘Parou?’. Ele confirmou: ‘É, parei’. Esse furo da aposentadoria do Romário foi o maior porque o cara foi campeão do mundo, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial”, revelou Marluci.
Já são 24 anos de jornalismo esportivo, quatro copas do mundo e incontáveis histórias que inspiraram Patrícia Gregório, hoje, assessora de imprensa do Vasco da Gama. “Meu pai sempre comprava o jornal quando a gente era criança e sempre as matérias do Vasco eram escritas pela Marluci Martins. Eu ficava encantada lendo aquelas matérias escritas por uma mulher. E eu pensava ‘Um dia ainda vou ser jornalista também. Ainda vou escrever sobre futebol’”, lembrou Patrícia.
Regiani Ritter é referência em São Paulo. Trabalhou com futebol durante 15 anos. Tem muitas lembranças desse lugar. “É olhar e tremer. Sentir vontade de voltar no tempo e fazer tudo de novo. Tudo igual. Não mudaria nada. Faria tudo igual. Mesma coragem, mesmos desafios. Dizem que só tem saudade quem já foi feliz e eu sou uma privilegiada. Eu sou feliz até hoje, mas é claro que meu tempo de campo, de gramado passou”, disse Regiani.
Emoção de quem um dia trabalhou junto ao campo. Uma precursora. Repórter de rádio no início dos anos 80, em um ano que as entrevistas depois dos jogos não eram em uma sala de imprensa, mas nos vestiários. “A primeira vez que eu entrei no vestiário, tentei me convencer de que aquilo era absolutamente normal. Que eu não ia ver nada que eu nunca tivesse visto e que eles, estando nus, não iam ver uma mulher pela primeira vez”, destacou a Regiani.
A importância dessa jornalista foi materializada em um troféu. O Troféu Regiani Ritter, homenagem da Associação dos Cronistas de São Paulo às mulheres que trabalham com futebol. Algo cada vez mais comum. Hoje, o número de mulheres credenciadas é 12 vezes maior. Subiu de oito para 90 jornalistas. A Regiani, a Marluci e a Clara são exemplos de que o futebol segue uma tendência da vida.
“Esses tabus estão sendo quebrados. As mulheres estão participando mais em todas as áreas da sociedade e o futebol entra nesse pacote”, completou Clara.
Assista a reportagem:
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