Ortiz poderia ter sido engenheiro. Ortiz poderia ter jogado uma
Libertadores, se o Grêmio o tivesse cedido ao Cerro Porteño durante sua
curta passagem pelos gramados. Ortiz poderia ter parado de jogar futsal
em 1997, quando um diagnóstico aparentemente definitivo o tirou das
quadras. Ortiz poderia, ainda, ter se satisfeito em ser ídolo nas
quadras do Gigantinho em uma época em que eram parcas as conquistas no
Beira-Rio.
Mas o camisa 11 dos principais títulos do Inter no
futsal hoje tem a missão de projetar o futuro do clube aprimorando
jogadores da base. E, agora, Ortiz forma craques.
Aos 47 anos e
dotado de um semblante tranquilo, Luís Fernando Roese Ortiz construiu a
carreira no clube e tornou-se referência para os meninos que chegam ao
Beira-Rio com o sonho de jogar bola, o mesmo que um dia ele teve. O
coordenador do Projeto Aprimorar e do FutCenter, que também comanda o
Sub-20 e o Sub-23, frequentava um pré-vestibular na Rua Dr. Flores
quando foi levado para as quadras de futsal.
Eloquente com as
palavras, o rosto estremece ao falar de 1997, o ano em que recebeu a
recomendação de parar. Afastou-se das quadras por oito meses e, com a
orientação do departamento médico do Inter, conseguiu retomar a
carreira. O desejo de voltar era tanto que em um apressado mês de
recuperação já estava pronto para o Mundial de Clubes, vencido depois
pelo Inter. Quando parou de fato, em 2003, nenhuma sentença médica fora
proferida: convidado a ser supervisor da base, com a faculdade se
encerrando e 10 anos de seleção na bagagem, vislumbrou a mudança de
profissão ainda no clube que o projetou. Chutes a gol, hoje, só nas
peladas:
– Não tem nada melhor que jogar.
Negociação frustrada tirou Ortiz do futebol de campo
Com
passagem por clubes de Caxias, Fortaleza, Paraná, Santa Catarina e
Madri, na Espanha, os pontos altos da carreira foram no Inter. Hoje, o
mesmo Gigantinho que o viu conquistar títulos em uma época em que o
futebol de campo dava raras alegrias ao torcedor colorado jaz vazio,
para sua tristeza. Adotado como ídolo pela torcida, Ortiz se ressente da
falta de investimento no futsal, reconhecidamente formador de craques e
capaz de levar o nome do clube a cidades onde o futebol passa longe.
Mas entende o lado do Inter, que precisa investir na formação de
jogadores e não se permite ter um time de futsal mediano, apenas para
figuração.
Se o sonho de menino era jogar no campo, Ortiz pôde
experimentar por dois anos, suficientes para decepcionar-se e, por fim,
abandonar a ideia. Jogou no Grêmio entre 1985 e 1987 e chegou a vencer o
Campeonato Gaúcho com o clube, mas largou por uma desavença com a
direção, quando foi sondado pelo Cerro Porteño e dirigentes do Grêmio
dificultaram ao máximo a negociação, revela.
Ainda cursando
Engenharia, já conhecido nas quadras e com o suporte econômico da
família, de classe média, negou-se a continuar no clube. Hoje, a atitude
lhe parece precipitada. Mas a ideia se dissipa quando pensa em títulos e
medalhas conquistados justamente no rival, onde marcou uma geração e
tornou-se eterno.
Confira a íntegra da matéria na edição deste domingo de Zero Hora.
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